27.4.07

“ Fiquei silencioso. E ela repetia,.com estridência: — Os russos estão entrando em Berlim! Inexplicavelmente respondi-lhe: — Merda! E no quarto diante de minha mesa de trabalho e do crucifixo, depois de uma breve oração deitei a cabeça nas mãos e repeti para mim mesmo como quem geme: — Os russos estão entrando em Berlim. Uma certeza medonha e brutal apunhalou-me: perdêramos a guerra. Ou melhor, perdêramos a paz. Eu sentia o punhal: arrematara-se a mais hedionda conjuração de traições. E começava, naquele dia de festividade monstruosamente equivocada, uma era de inimagináveis imposturas. Incompreensivelmente, depois de tantos sofrimentos, de tão detidos esforços, de tão maravilhosos heroísmos, os povos de língua inglesa, derrotados por si mesmos, pelo liberalismo e pelo democratismo, entregavam ao Minotauro comunista dez vezes mais do que a parte da Polônia em razão da qual entrara o mundo em guerra. Singular e cínico paradoxo: para cumprir um tratado e para evitar a partilha da Polônia, a Inglaterra e a França aceitaram finalmente o ônus de uma guerra mundial contra o pacto germano-soviético; agora, depois da vitória sobre o nazi-comunismo, entregava-se a Polônia inteira ao comunismo que também foi vencido, e que só comparece entre os vencedores no quinto ato da comédia de erros, graças a um aberrante solecismo histórico, que nem sequer podemos imputar à habilidade e à astúcia do principal beneficiário. A impressão de uma direção invisível nessa comédia de erros impõe-se irresistivelmente.
Eu ouvia os foguetes. Milhares de bons cidadãos, de excelentes pais de família, de fidelíssimos antinazistas, abraçavam-se, congratulavam-se uns com os outros, convencidos de que finalmente as 'democracias" alcançavam a vitória. E eu perguntava: que vitória? ...”
“... um furacão passaria sobre o mundo com devastação maior do que a de todas as guerras somadas, e então veríamos os padres abandonarem as batinas, as freiras esquecerem os votos e os medos, e os bispos se transformarem em diretores, secretários, presidentes e vice-presidentes de uma organização burocrática incumbida de publicar falsas notícias e de difundir doutrinas e esperanças ainda mais falsas. ...”
Autor Sr. Gostavo Corsão.

http://gustavocorcao.permanencia.org.br/Artigos/secnada1.htm

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